EDIÇÃO
ESPECIAL DO CANTINHO:
CONVERSANDO
COM ENEIDA QUEIROZ :
É com muita
emoção que eu falo hoje com a escritora Eneida Queiroz. Acabei de ler seu livro
“A mulher e a Casa” e gostaria de compartilhar um pouco dessa grande e triste
história de amor aqui no Cantinho. Para quem ainda não leu a resenha, clique
aqui.
Vamos
conhecer mais um pouco sobre ela:
Ela é a
quarta filha de dois economistas, é graduada e mestre em história pela
Universidade Federal Fluminense (UFF). Natural de Niterói, Rio de Janeiro,
mudou-se para Brasília em 2008. Foi professora de história e atualmente é
servidora no Instituto Brasileiro de Museus (Ibram/MinC). Atraída pela ficção
desde a infância, Eneida é apreciadora dos romances históricos, sobretudo
quando abordam a história do Brasil.
Sua
obra,
confiram:
O
erotismo elegante e matemático do poema “A mulher e a casa”, de João Cabral de
Mello Neto, combina-se perfeitamente com a financista Eufrásia Teixeira Leite.
Rica e inteligente, esta senhora de escravos desperta uma paixão inconciliável
no abolicionista Joaquim Nabuco. O famoso casal vive uma história de amor entre
o Brasil e a Europa, com muitas correspondências, viagens e encontros. Amor que
só se concretiza quando os dois equalizam as divergências ideológicas e
tornam-se um só sentimento, ainda que por pouco tempo.
Esta é a história que nos conta
Desirée, historiadora frustrada com os baixos salários e as poucas
oportunidades da carreira. Ao começar a trabalhar na antiga residência de
Eufrásia (o Museu Casa da Hera), a protagonista é surpreendida por esse romance
e faz uma viagem sem volta ao século XIX, por meio das cartas trocadas entre os
dois. Com uma linguagem fácil e repleta de diálogos, Desirée espera que esta
história de amor, e do Brasil, fisgue o leitor, como a fisgou.
Contato:
Facebook:
Onde Comprar:
Não percam a entrevista que
ela fez com carinho para o Cantinho!!!!
ENTREVISTA COM ENEIDA
QUEIROZ:
1) Você é graduada e mestre em História e trabalha no Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM). Por que História? O que a levou a escolher essa carreira? Sempre soube que queria ser historiadora?
Eneida: Eu sempre gostei de história na época da escola. Sou uma pessoa de artes e humanas. Na hora de escolher a profissão no vestibular, tive muitas dúvidas. Podia ser jornalismo, cinema, história, quem sabe até direito (na verdade, direito eu não queria muito)... Acabei optando por história. Sou sensível, as vidas e histórias dos outros sempre me interessam.
2) Na
escola eu sempre preferi estudar história antiga, adoro mitologia greco-romana.
E você? Tem predileção por algum período específico?
Eneida: Na
escola, todos os períodos históricos me interessavam. Egito antigo, Roma,
Grécia, Idade Média européia, Renascimento e navegações, Brasil colonial,
revoluções, tudo... A época da escola é muito boa, lembro da sensação de que
todo dia aprendíamos muitas coisas novas! Sempre sentei na frente... Mas, com o
tempo, me apaixonei mesmo pelo século XIX. A segunda metade do XIX e as duas
primeiras décadas do XX são fantásticas! Muitas invenções tecnológicas,
descobertas científicas, edificações maravilhosas, mudanças urbanas, roupas
fantásticas, pinturas, músicas, e literatura que admiramos até hoje!
Amo, sobretudo, a história do Brasil. O século XIX
brasileiro é meu período predileto. Sobretudo esse XIX longo, que abarca um
pouco da República Velha.
3) Deve
ser fascinante trabalhar em um museu, ter acesso a obras importantes de
momentos que marcaram nosso passado. Conte um pouco sobre o que faz no Museu.
Eneida: Eu
trabalhava no edifício sede em Brasília, não no Museu Casa da Hera. Lá quem
trabalha é a personagem Desirée (risos). Mas conheço o museu e algumas pessoas
que trabalham nele, as funções são diversas: existe o trabalho com o acervo,
que é catalogado, e quando alguma peça é mudada de lugar ou sai da reserva
técnica para ser mostrada para algum grupo de visitante específico isso fica
registrado e deve ser feito com o cuidado próprio do museólogo. Tem o trabalho
educativo que é bastante variado, para idades e grupos diferentes, sobre o tema
do museu ou temas correlatos. O trabalho das visitas guiadas, o trabalho de
comunicação (ou propaganda) no site, no blog, em convites, panfletos, vídeos e
placas de sinalização, o trabalho da administração, da segurança, da limpeza
correta e cuidadosa, o que não falta em um museu é trabalho!
4) Já
teve oportunidade de conhecer os museus de outros países? Já teve acesso a
algum documento ou objeto famoso na história? Tem algum episódio curioso que
possa nos contar?
Eneida: Conheço
muitos museus. A maioria deles como turista e passando rápido, infelizmente.
Mas eu gostaria mesmo é de conhecê-los a fundo. No Brasil gosto muito do Museu
Nacional de Belas Artes (Rio), o Centro Cultural da Justiça Federal (tb no
Rio), o Museu da República (Rio), o Museu Imperial em Petrópolis, o MASP de SP
é muito bom, o Museu da Língua Portuguesa (SP), a Pinacoteca de SP é linda, o
Museu Casa da Hera lógico, todos os centros culturais do Banco do Brasil, o
Museu da Gente Nordestina em Aracaju...
Fora do Brasil sou encantada pelo Museu D'orsay de
Paris, o Louvre tb de lá, o Museu do Prado de Madri, o Museu de Arte da
Catalunha em Barcelona, etc.
Eu tenho um episódio curioso, mas que ocorreu em um
arquivo (onde já fiz estágio) e não em um museu. Era um arquivo da Justiça
Federal com processos do final do XIX e inicio do XX. O sujeito precisava
comprovar a morte da esposa para receber uma quantia em dinheiro. Como estamos
falando do início da fotografia, que era tida como prova e ninguém pensaria em
falsificações, o sujeito botou no processo uma foto da mulher dele morta dentro
do caixão, cheio de flores em volta!
5) Agora, sobre sua obra: Por que escrever um livro? E porque escolheu Eufrásia Teixeira Leite e Joaquim Nabuco?
Eneida: Adoro escrever! Adoro contar histórias! E eu achava que essa merecia ser contada! Ela já era narrada por estudos históricos e econômicos (artigos e livros acadêmicos), mas de forma romanceada só havia o livro da Cláudia Lage (o "Mundos de Eufrásia").
Veja, uma história como essa merece vários romances,
poemas, músicas, filmes, novelas, minisséries, livros em quadrinhos, pinturas,
tudo! Eu quis contribuir com um romance que trouxesse documentos originais dos
dois personagens, como as cartas que ela escreveu, e partes do diário dele e
dos discursos políticos.
Escolhi Eufrásia, porque ela foi uma mulher que
soube multiplicar por 10 a fortuna que o pai lhe deixou, doou todo esse
dinheiro para instituições religiosas de caridade, nunca se casou e nem teve
filhos (numa época que isso era quase uma obrigação para as mulheres). Além
disso, era bonita, ciumenta, altiva, gostava de roupas de luxo e foi
profundamente apaixonada por um homem com quem não se casou: bons ingredientes
para um romance.
Nabuco veio junto dessa escolha, pois foi o amor de
Eufrásia. Mas ele não é menos interessante! Ele é maravilhoso! O Nabuco, para
mim, tem a perfeita trajetória do herói, ou seja, é o personagem que não nasce
feito. Ele se constrói, como todos nós. Nem tudo nele é perfeito, ele tem
defeitos e qualidades. Foi um grande abolicionista, participou dessa que foi -
para mim - uma das maiores batalhas políticas e sociais do Brasil. É por isso
que os capítulos finais giram em torno da Abolição da Escravatura, que isso
estava consumindo o país e consumindo a vida, os dias, as energias dos dois
personagens. E olha que Eufrásia não gostava de política!
6) A
escolha de personagens reais tornou a escrita do livro mais difícil? Conte um
pouco sobre o processo de pesquisa da vida deles. Leu algum livro sobre eles?
Você visitou o Museu Casa da Hera? Conheceu a Fundação Joaquim Nabuco?
Eneida: Escrever
sobre personagens reais, pelo menos neste caso, foi mais fácil. Afinal, eu não
precisava começar do zero, eu já tinha algumas respostas. Por exemplo: eles se
encontravam no Hotel White que ficava na Tijuca, no Rio de Janeiro. Nós sabemos
disso pelas cartas que eles trocaram. Quando? Em 1885. Eu li o diário dele e
anotei os momentos, de 1885, em que ele relatava os problemas políticos, as
idas à Tijuca, um passeio de barco, etc. Ou seja, o grosso já estava lá! Eu só
precisava dar vida, ir costurando, ligando, imaginando, balanceando com as
fontes. Pensar no que disseram, como estavam emocionalmente. Eu sabia que eles
prometeram se encontrar em Petrópolis em janeiro de 1886, porque em dezembro de
1885 ele teve que ir para Recife fazer campanha. No entanto, Eufrásia voltou
para a Europa em dezembro mesmo. Eu sei disso, é mais fácil ir ligando os
pontos e dar pequenos saltos imaginativos entre as fontes.
Eu li todos os artigos que a Hildete Melo e a
Miridam Falci escreveram sobre Eufrásia ( e que agora uniram no livro
"Sinhazinha emancipada"), eu li a biografia do Nabuco escrita pela
Angela Alonso, diversos artigos sobre Nabuco e sua obra (o que não faltam são
textos e interpretações sobre Nabuco), li os diários dele, que foram publicados
em formato de livro pela Fundação Joaquim Nabuco. Pelo site da Fundação Joaquim
Nabuco e esses sites em que você pode fazer download gratuito de textos
antigos, eu li os discursos políticos dele. Eu li as cartas que Eufrásia
escreveu para ele. Eu li as cartas da amiga Conceição. Eu li o romance Mundos
de Eufrásia, eu li diversos artigos sobre as famílias Teixeira Leite e Corrêa e
Castro, sobre o café e a região do Vale. Eu reli Senhora, do José de Alencar...
E assim, fui montando o quebra cabeça.
Sim, visitei o Museu Casa da Hera. Mas infelizmente,
ainda não conheço a Fundação Joaquim Nabuco. Quero muito ir lá, e ir ao Engenho
Massangana, que faz parte da Fundação e está preservado.
7) Queria
muito saber se você teve a chance de visitar o “Túnel do Amor”, localizado na
Casa da Hera, casa em que Eufrásia viveu com seus pais e que hoje é o Museu
Casa da Hera. Se a resposta for positiva, por favor, nos conte o que sentiu.
Eneida: Sim,
quem visita a Casa da Hera pode visitar a chácara toda, onde fica o túnel. Eu
adoro túneis de bambus, na verdade adoro todas essas passagens cobertas por
plantas. Acho calmo, bucólico, lírico.
O que eu senti, talvez não ali, mas depois pensando
em tudo e conectando as idéias: é que nós temos uma mulher apaixonada, uma casa
convidativa à visitação, e um túnel. Túnel do amor: que sugestivo! Eu conhecia
o poema "A mulher e a casa", que fala da mulher como quem fala de uma
casa, que diz querer fazer amor com uma mulher, como quem entra numa casa.
Poema do pernambucano João Cabral de Mello Neto ( assim como Nabuco também era
pernambucano) que também foi diplomata, assim como Nabuco. Muitas
coincidências, muitas referências a casas, museus, mulheres, amor, sexo,
política, diplomacia, escravidão, liberdade: só era necessário ligar os pontos.
8) Em seu
livro você conta que as cartas da Eufrásia são transcrição das originais. Você
teve acesso a elas? Você também cita várias passagens do diário do Joaquim
Nabuco. Você teve acesso a ele também? Se as respostas forem positivas, nos
conte sobre essa experiência.
Eneida: Sim, as
cartas da Eufrásia são transcrições da originais. Ali eu não existo. É só ela,
o original dela. Por isso essas cartas aparecem entre aspas.
Só tem um bilhete, pequeno, que fui eu que escrevi,
para dar ligação numa cena na Itália (quando eles se reencontram em Roma) que
fui que escrevi (ainda assim usando algumas frases que mais tarde ela mesma
veio a grafar nas cartas) e por isso esta única carrinha dela não esta entre
aspas.
Já a série de cartas do ultimo capitulo, "as
cartas que não enviei", essas não aparecem entre aspas, porque são pura
ficção.
As passagens do diário do Joaquim Nabuco também são
transcrições, frases dele mesmo. Eu li os diários, porque foram
publicados em livros (são dois tomos) e um amigo do meu pai me deu de presente!
Ler as cartas da Eufrásia, para mim, é angustiante.
Ela amava muito o Nabuco, mas não conseguia tomar uma decisão. Ele a
compreendia mal, e ela própria dizia que escrevia mal e lamentava-se por ele
não entendê-la. Tem uma passagem em uma das cartas em que ela nos da a entender
que até pessoalmente por vezes eles brigavam por algo que ela dizia, e ela
precisava se explicar. As últimas cartas que ela escreveu, com a intenção de
emprestar dinheiro a ele, são as mais angustiantes, porque ela queria fazer um
bem a ele, mas ele não gostou nem um pouco.
9) Você
também informa que apenas uma carta de Joaquim é verdadeira, pode nos dizer
qual? Pode nos falar um pouco também, sobre a lenda de que as outras cartas que
ele escreveu a Eufrásia estariam enterradas com ela?
Eneida: Nabuco
quando escrevia, fazia uma cópia (um rascunho) e guardava. Então, se as cartas
que ele enviou para ela, Eufrásia mandou queimar ou mandou que forrassem seu
caixão com elas, tudo bem: as copias existem!!! Só que não... Infelizmente, o
único rascunho dele para ela que ainda existe é a do término do namoro. É
aquela carta em que ele diz que não está mais comprometido com ela e que
seguirá seu coração. Que pede que ela destrua as cartas dele ou as envie para
ele mesmo o faça.
Estranho que só esta cópia (rascunho) tenha
sobrevivido. Aí tem coisa! Ou ele mesmo rasgou todas essas outras cópias que
falavam de amor, paixão, encontros, desejos, ou sua mulher Evelina, ou seus
filhos. E só deixaram essa, que fala de término, fim e tristeza. Ou então elas
existem, mas a família não quer divulgar nem mexer nisso. É possível que tenha
sido ele mesmo, ele foi fiel à esposa e ela foi muito ciumenta.
Já as cartas que Eufrásia escreveu para ele, nem ele
nem a família rasgaram. Estão lá, intactas, hoje guardadas pela Fundação
Joaquim Nabuco.
No entanto, não são muitas. E se você reparar bem,
há sempre algum desentendimento ou algum desencontro. Será que não existiram
outras onde só havia beleza, calma e amor? E alguém rasgou para só ficarem
guardados os impasses e impossibilidades?!
A única carta que não
tem desentendimento nenhum é o bilhetinho: te amo de todo o coração.
10)
Depois de tanto pesquisar sobre eles, conseguiria dizer quem foi Eufrásia
Teixeira Leite? E quem foi Joaquim Nabuco?
Eneida: Eufrásia,
para mim, foi uma ariana forte, muito inteligente com dinheiro, recatada,
católica, que amava os pais (sobretudo a memória do pai que ela quis preservar
eternamente com sua fortuna). Alguém muito decidida para algumas coisas, mas
confusa e indecisa em relação a Nabuco. Ela mesma se descreve como um enigma.
Amava, mas não conseguia ceder em alguns aspectos para concretizar esse amor. E
assim, sofria.
Nabuco, para mim, foi também muito ligado aos pais
(a sua madrinha, que ele nunca esqueceu, e a memória política do pai, que ele
escreveu). Não sabia lidar com dinheiro, mas escrevia muito bem e tinha a alma
poética, analítica, sociológica e histórica. Queria entender o Brasil. Teve
muitas mulheres, manteve-se solteiro até as portas da velhice. No século XIX,
40 anos já era o chegar da velhice. Foi um grande debatido político, um dos
grandes intérpretes do Brasil. Teve cinco filhos e morreu em Washington, quando
era embaixador.
11) De
que forma esse casal marcou você? Pode dizer que aprendeu alguma coisa com a
história deles?
Eneida: Eles me
marcaram demais. Adoro os dois. O que aprendi com eles? Talvez tenha aprendido
com o sofrimento de Eufrásia: a vida é mais simples do que a gente imagina. O
jeito é tomar decisões e aceitar as consequências. Ficar em cima do muro é ver
a vida passar, não faz bem. Teoricamente absorvi isso, o difícil é colocar em
prática...
Com Nabuco aprendi que o mundo dá voltas.
12) Não
vou resistir: Você é a Desirée? Ou pelo menos, emprestou a esse personagem um
pouco de você?
Eneida: Desirée
tem muito de mim, mas não sou eu. A história dela não é a minha, mas grande
parte dela sou eu, com partes de outros vários amigos e conhecidos.
13) Qual
é o seu personagem preferido? Por quê?
Eneida: No
livro? Não sei se é Eufrásia ou Nabuco... Às vezes acho que é o Nabuco.
14) Pergunta:
Durante a leitura, os leitores irão perceber que alguns capítulos são abertos
com trechos de músicas. E, propositalmente, ou não, esses trechos se encaixam
perfeitamente ao momento vivido na história. Como surgiu a ideia de unir a
música ao texto? São músicas de estilos diferentes, a escolha foi proposital?
Qual é o seu relacionamento com a música?
Eneida:
Propositalmente se
encaixam. Sempre que uma música me lembrava de um determinado personagem, ao
menos de um determinado momento de sua vida, eu pensava em colocá-la no texto.
A ideia era que as pessoas ouvissem as músicas comigo, era dividir. Era
compartilhar o que me vêm à mente quando penso no passado, ou quando penso
nesses determinados personagens. De certa forma, era como tentar fazer um
filme, dar trilha sonora aos capítulos.
E
se eu pudesse colocaria mais músicas no livro!
Acho
que as músicas do Gilberto Gil são perfeitas, fiz uso de uma delas, a “Tempo
rei”, que diz “tempo rei, trasformai as velhas formas do viver”. Foi usada no
capítulo sobre Nabuco, para dar trilha às transformações e mudanças de hábitos
entre os séculos. São muitas mudanças, mas ainda somos essencialmente os
mesmos, e certos padrões se mantêm. Por isso, a música começa com “Não me
iludo/tudo permanecerá do jeito que tem sido/transcorrendo/transformando”. Para
mim, nossas transformações são lentas.
Do
Gil, se eu pudesse, colocaria outras!
A
infância do Nabuco, no Engenho Massangana, combina bem com o samba “Todo Menino
é um rei”. Escuto e vejo ele correndo no engenho com as crianças escravas.
Queria
muito mesclar as músicas de época, contemporânea dos personagens, com músicas
atuais. Porque muitas músicas atuais me remetem aos personagens. Claro que as
atuais só poderiam vir na abertura dos capítulos, ou mencionada pela narradora.
Já as de época podiam ser citadas ou cantadas diretamente pelos personagens,
como eu fiz Eufrásia cantar “Quem sabe”, de Carlos Gomes, em uma festa em casa.
No
entanto, para mim, a música da personalidade de Eufrásia é o Rap “Miss
independent”, do Ne-Yo (risos). Eu escuto o Ne-Yo cantando “Yeah,
she moves like a boss/Do what a boss/Dude, she got me thinking/About getting
involved/That's the kind off girl I need/She got her own thing/That's why I
love her/Miss independent” e sinto Nabuco! Em sentimento é possível mesclar passado e presente.
As
músicas da Adele impressionantemente combinavam demais com a história!
Umas
das músicas dela, que poderia até definir aquela relação, é “Rolling in the
deep”. “Rolling” é uma música que fala que eles podiam ter tido tudo, amando-se
incondicionalmente, mas que não deu certo. E eu gosto da Adele porque ela é
muito sentimento! Por exemplo, “Rolling in the deep” é quase um grito de
frustração! Poxa, a gente podia ter tido tudo!!! Podia ter sido tudo! Rolling
in the deep, mas não deu certo! Adele canta nas raias da emoção da frustração
raivosa. Já a música “Someone like you”, que eu também usei em outro capítulo,
é melancólica, sofrida, abatida, arrastada. E combina-se, perfeitamente, com o
casamento de Nabuco com Evelina. Eu posso imaginar Eufrásia dizendo: eu soube
que você se assentou, que você encontrou uma garota e está casado agora. Eu
soube que seus sonhos se tornaram realidade, eu acho que ela te deu coisas que
eu não te dei. Velho amigo, por que está tão tímido? Não é do seu feitio se
refrear ou se esconder da luz. (I heard that you're settled down/That you found a
girl and you're married now/I heard that your dreams came true/Guess she gave
you things, I didn't give to you/Old friend/Why are you so shy/It ain't like
you to hold back/Or hide from the light).
Se
eu pudesse, ainda, colocar mais uma música seria essa: “Senhorinha”, do Guinga.
Cantada na voz maravilhosa de Mônica Salmaso:
“Senhorinha
Moça de fazenda antiga, prenda minha
Gosta de passear de chapéu, sombrinha
Como quem fugiu de uma modinha
Sinhazinha
No balanço da cadeira de palhinha
Gosta de trançar seu retrós de linha
Como quem parece que adivinha (amor)
Será que ela quer casar
Será que eu vou casar com ela
Será que vai ser numa capela
De casa de andorinha
Princesinha
Moça dos contos de amor da carochinha
Gosta de brincar de fada-madrinha
Como quem quer ser minha rainha
Sinhá mocinha
Com seu brinco e seu colar de
água-marinha
Gosta de me olhar da casa vizinha
Como quem me quer na camarinha (amor)
Será que eu vou subir no altar
Será que irei nos braços dela
Será que vai ser essa donzela
A musa desse trovador
Ó prenda minha
Ó meu amor
Se torne a minha senhorinha”
Dá
vontade de perguntar: Então, Nabuco? Descobriu se ela quer casar? Você subiu no
altar com ela? Ela se tornou sua senhorinha?
15) Se
pudesse mudar o destino deles, qual seria o final que teria escrito?
Eneida: Ahhh,
os dois juntos!!! Eufrásia não queria morar no Brasil e também não queria que
Nabuco tivesse uma vida menor na Europa (sem o potencial que ele poderia ter no
Brasil). Ela o amava tanto que queria que ele tivesse todo o sucesso que
pudesse ter, mas isso inviabilizava o relacionamento (além dos gracejos dele
para outras mulheres, da preocupação de Eufrásia com a herança, com a irmã, do
que a família poderia dizer, etc.)
Alguém teria que ceder ali, mas que isso não
significasse o fim da carreira política dele, nem ela se transformando numa
sinhá qualquer no Brasil. Eles teriam que encontrar soluções, jeitos, jogos de
cintura.
16) Quais
são seus projetos? Está escrevendo algum outro livro?
Eneida: Por
enquanto, acabei de chegar na Bélgica. Eu e meu marido vamos morar aqui por
algum tempo. Penso em escrever outros livros, talvez um com Desirée em outro
museu, com outros personagens.
17) Do
que você viu da vida, de todos os lugares que conheceu, das pessoas que
compartilharam momentos com você, qual a mensagem que gostaria de deixar aqui
no blog do “Cantinho para Leitura”?
Eneida: Vamos
fazer o que gostamos! Se não der para viver disso, ao menos façamos isso
enquanto hobbie. Faz bem para nossa saúde!
Eu poderia ficar falando sofre a Eufrásia e o Nabuco
durante horas que não me cansaria. Obrigada Eneida por apresentá-los ao
Cantinho e por ter falado um pouco mais sobre você. Adorei sua entrevista!!!
Sucesso para o seu livro e que venham muitos outros!!! Estarei aguardando as
próximas aventuras da Desirée!!!!
Adorei a entrevista e fiquei super curiosa sobre o livro da Eneida, vou procurar conhecer mais sobre.
ResponderExcluirhttp://livrosecores.blogspot.com.br/
Oi Lizzie,
ResponderExcluirtudo bem?
Se tiver oportunidade acredito que não irá se arrepender. Eu gostei muito. E que bom que gostou d entrevista.
Beijos.
Cila- leitora Voraz
Capa linda! Não conhecia o livro e a autora... claro, que nunca é tarde pra apreciar uma nova obra.
ResponderExcluirGostei!
Bjos
Ni
http://ciadoleitor.blogspot.com
Oi Nizete,
ResponderExcluirEu também gostei, pois olhando a capa, dá a impressão de que encontramos um baú velho, com fotos e cartas antigas guardadas. Já dá para entrar no clima da história.
Beijos.
Cila- Leitora Voraz
Olá, gostei bastante do seu cantinho.
ResponderExcluirA entrevista ficou muito boa, fiquei curioso para ler o livro da autora, já anotei aqui.
Estou seguindo seu blog para acompanhar as atualizações e sempre que puder fazer uma visita.
Abraços
http://reaprendendoaartedaleitura.blogspot.com.br/
Oi Fernando,
ResponderExcluirque bom que gostou, mas o Cantinho é nosso, é para todo mundo que goste de ler como eu. Eu também gostei muito da entrevista, a Eneida tem muito o que compartilhar. Leia que não irá se arrepender.
Beijos.
Cila- Leitora Voraz
Oi! Adoro conhecer mais da Eneida. Olha que você fez a pergunta que eu queria saber, se ela é a Desire, fiquei imaginando a autora como a personagem.
ResponderExcluirbeijos flor
livrorosashock.blogspot.com.br
Oi Ana,
ResponderExcluirdurante a leitura do livro isso não me saia da cabeça, tive que perguntar (risos...). Você já leu o livro dela? Parece que sim, vou ver no seu blog.
Beijos.
Cila- Leitora Voraz.
Parabéns pela entrevista, ainda não conhecia a autora e foi legal saber sobre ela
ResponderExcluirPah
Lendo e Escrevendo
Oi Pah,
Excluirobrigada pelo carinho. Eu também adorei ler esse livro e fazer essa entrevista. Como disse, poderia conversar com a Eneida durante horas que não me cansaria.
beijos.
Cila- Leitora Voraz
Oi Cila, adorei a entrevista, parabéns! Super bem elaborada, o que nos fez conhecer muito bem a autora. Beijos, Mi
ResponderExcluirwww.recantodami.com
Oi Mirelle,
Excluirobrigada, que bom que gostou da entrevista. Ela é uma fofa, não é mesmo? tenho certeza que irá gostar do trabalho dela também.
Beijos.
Cila- Leitora Voraz